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Kafka, a Metamorfose e os atletas lesionados

  • Foto do escritor: Carolina Ribeiro Lopes Ferrer
    Carolina Ribeiro Lopes Ferrer
  • 30 de set.
  • 2 min de leitura

Ler A Metamorfose, de Franz Kafka, foi para mim mais do que uma experiência literária: foi um espelho do que presencio como médica do esporte.

Na história, Gregor Samsa desperta transformado em um inseto, e pouco a pouco deixa de ser reconhecido pela família. Antes, era essencial; depois, passa a ser um peso. A doença, a incapacidade de se comunicar e a perda de função o despersonalizam até sua morte.

No esporte, vemos algo semelhante.

Quando um atleta se lesiona gravemente ou enfrenta uma condição clínica que o afasta por meses, ele não perde apenas o rendimento — perde parte da identidade que o fazia existir no mundo. Afastado do treino, do grupo e da competição, muitas vezes passa a se sentir invisível. Aos poucos, a dor maior não é apenas física, mas a de deixar de ser reconhecido pelo que sempre o definiu.

Assim como em Kafka, o que mais dói não é a metamorfose em si, mas o afastamento humano que ela provoca. É o silêncio em torno do atleta, a sensação de que deixou de ser útil, de que não “faz parte”.

Essa leitura me lembrou que a medicina do esporte precisa ir além da reabilitação física.

👉 É sobre cuidar da pessoa em toda sua complexidade: dar espaço para que o atleta continue existindo, mesmo fora do campo.

👉 É sobre ajudar a família e o clube a compreender que por trás da lesão ainda existe um ser humano em transformação, não apenas um “problema a ser resolvido”.

Kafka nunca explica a metamorfose. E talvez a lição seja essa: ninguém sabe quando uma lesão ou condição inesperada pode mudar tudo. O que podemos escolher é como olhar e como cuidar — para que, mesmo no afastamento, o atleta não perca sua humanidade.

 
 
 

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